Entrevista com Maura Baiocchi:
Como é feita a curadoria?
Desde a sua inauguração, em 2021, o CineFestival Internacional de Ecoperformance tem curadoria de integrantes da Taanteatro Companhia, organizadora do projeto. As curadoras da atual edição são Maura Baiocchi (sendo uma entrevista com a Maura, acho estranho ela falar dela em treceira pessoa... sugestão: As curadoras da atual edição sou eu, Maura Baiocchi, diretora etc), diretora artística do festival, e Mônica Cristina Bernardes, produtora executiva. Os filmes da programação precisam refletir o foco conceitual do festival, ou seja, abordar tensões produtivas entre meio ambiente, corpo, ancestralidade e memória. Incentivamos trabalhos que fogem de dramaturgias excessivamente antropocêntricas e revelem a performatividade do ambiente.
Iniciamos o festival inaugurando o novo gênero de eco[po]ética que enfatiza o entrelaçamento do estético e do ético na produção artística e destaca a ancestralidade em seu aspecto projetivo. "Que ancestral quero ser para meus descendentes?" tem sido uma questão fundamental desde que criamos o conceito de ecoperformance, por volta de 2009. Para a quarta edição, devido às inúmeras inscrições de outros gêneros cinematográficos, criamos três novas categorias: ecodrama, ecoanimação e ecodocumentário.
O processo curatorial é instigante e exaustivo. O grande número de inscrições fez com que antecipássemos o prazo de inscrição em um mês. Ainda assim, recebemos cerca de 770 candidaturas de 81 países. Para a seleção final pesam critérios como relevância temática, intensidade e forma performativas, realização cinematográfica, sonoplastia e a diversidade das obras.
Desde 2022, o festival passou a ter um júri internacional. Na edição atual, esse júri é formado pelo ator e realizado Nabil Chahhed, da Tunísia, por Candelaria Silvestro, pintora e performer argentina, Rolf Gerstlauer, arquiteto e cineasta suiço, Alina Tofan, performer e atriz da Romênia, e pelo dançarino e ator moçambicano Jorge Ndlozy. O festival concede dois prêmios, o de Melhor Ecoperformance, escolhido pelo júri, e o Environmental Dance Prize, no valor 5000 Euros, patrocinado e escolhido pela Company Christoph Winkler sediada em Berlim.
Como os filmes, em linhas gerais, lidam com o tema?
As abordagens ao complexo ambiente-corpo-ancestralidade-memória variam muito. Ainda prevalece a narrativa antropos, ou seja, a tendência ao domínio da cena por um protagonista humano; muitas vezes em detrimento da performatividade ambiental como um todo. Preferimos obras que primam por uma SymbioCena, ou seja, uma cena em que a figura humana deixa de protagonizar em favor da interação entre todos os elementos e agentes performativos de um meio ambiente no mesmo plano de importância. Não é uma tarefa fácil, mas vivenciamos um crescimento no entendimento sobre o enfoque conceitual do festival.
O festival é marcado também pela diversidade (de nacionalidade, de gêneros etc), como foi chegar a isso?
A diversidade é inerente à natureza e, portanto, à missão ecopolítica do festival. Esta afirmação de formas de vida atrai espíritos livres e populações minoritárias. Consequentemente, o festival ressoa com criadores audiovisuais e públicos abertos a encontros com diferentes geografias, etnias, culturas, línguas, corpos, idades e géneros. Investimos na pluralidade natural e cultural essencial às condições de vida e, portanto, a todos os seres vivos do nosso planeta.
À medida que diversificamos a programação, notamos convergências temáticas abordadas sob diferentes perspectivas: escassez, poluição e destruição de recursos naturais, extinção de territórios, populações, modos de vida e linguagens. Este ano, ao adotar a plataforma FilmFreeway, o festival ampliou seu alcance geográfico, especialmente para as regiões da Ásia, África e Oriente Médio.
Outros fatores que contribuíram para a diversidade do festival estão relacionados ao formato. Começamos em 2021, durante a pandemia, como um festival online acessível em todo o mundo. No ano seguinte, em parceria com o Cine Satyros Bijou, o festival passou a fazer parte do calendário cultural paulista. Agora, em sua quarta edição, o projeto expande o formato presencial internacionalmente, em colaboração com universidades, centros culturais e teatros na Argentina, nos Estados Unidos, na Austrália, na Romênia e na Alemanha.